A blogueira e dissidente cubana, Yoani Sanchez, fala de frustração em
transformação lenta - Jose Castañares / AFP
MADRI - A jornalista, blogueira e ativista cubana Yoani Sánchez, que alcançou notoriedade mundial através de seu site, o ‘Geração Y’, tem suas ressalvas quanto à reaproximação com os EUA. Em entrevista ao “La Nación”, ela diz que regime dos Castro tenta fazer uma transformação, mas não uma democracia.
Como impacta na vida dos cubanos a aproximação com os EUA?
Temos um pouco mais de esperança. Claro que o processo que começou em dezembro está sendo mais lento do que se esperava.
O que pode acontecer se a mudança ficar estagnada?
As pessoas acreditaram que este processo de mudança seria mais rápido. Agora existe já uma certa insatisfação. E eu acredito que esta frustração vai aumentar enquanto as pessoas não virem mudanças reais. A migração aumentou. Somos um país que expressa sua rebelião escapando.
Não se percebe já mais liberdade nestes últimos meses?
Não, o que se nota é uma pressão maior da população justamente por ela agora ter acesso à internet. O governo está ainda tentando controlar o assunto, mas agora há brechas. Ontem, por exemplo, entraram em funcionamento 35 novos locais com wi-fi em lugares públicos.
A censura não diminuiu?
A censura continua muito forte. O meu blog continua bloqueado no país. Mas nós, cubanos, somos muito hábeis para driblar as proibições porque temos convivido décadas com elas. Por exemplo, se você encontrar um jovem na rua e perguntar-lhe se ele conhece algum servidor anônimo para entrar nos sites proibidos, certamente ele vai saber informar. A tecnologia faz com que seja impossível para o governo implementar uma censura total, como era nas décadas de 1970 ou 1980.
Quão longe está Cuba da abertura democrática?
O governo trata de fazer uma transformação, mas não uma democracia. Dá mais liberdades econômicas sem eliminar o controle político. É claro que alguns imprevistos acontecem no caminho: pode ser que a própria sociedade civil se fortaleça; pode ser o impulso das relações com os Estados Unidos. Mas, no momento, os Castro estão conseguindo fazer da prática o seu guia.
Não acredita que é possível alcançar a democracia com Raúl e Fidel Castro ainda vivos?
Adoraria que isso acontecesse, porque seria uma maneira de dar uma grande lição a eles.
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Fonte: O Globo